segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sobre soltar a alimentar a mente

Venho a um tempo observando e estudando a mente humana. Como os pensamentos se formam, como eles se desenvolvem, como as emoções surgem, como elas nos dominam, e coisas assim. Esse estudo está pautado nos ensinamentos do Buda que são transmitidos por mestres que já estudaram isso profundamente, e por generosidade, dedicam suas vidas para a propagação desses ensinamentos. Sinto necessidade de explicar isso. Acho que fica mais fácil para entender de que ponto da minha mente confusa essas linhas são escritas.

Ontem, domingo, entrou uma frente fria. Depois de dias seguidos de calor intenso, a frente fria foi bem recebida. Os amigos que estavam visitando foram embora e eu fiquei com aquela sensação de "posso ficar de preguiça". Então peguei o celular, o controle da TV, arrumei os travesseiros e me deitei para assistir Netflix. Tantos títulos que me foram indicados que nem sabia qual assistir. Indicações de pessoas que, como eu, estão buscando se conhecer melhor, viver de maneira mais simples, ajudar os demais... então qualquer filme ou documentário que eu escolhesse seria de acordo aos meus interesses e poderia me ajudar a evoluir nesse caminho. Apenas liguei a TV e pensei que poderia assistir algum ensinamento de algum mestre no YouTube. Sim, seria ainda melhor. Ou então escrever algo, traduzir, ler, tantas possibilidades. Mas a tela de abertura da Netflix já estava me hipnotizando. Ok, passei os olhos rapidamente e um novo documentário de quatro episódios estava lá. Era a história de um famoso serial killer americano. Por ser fatos reais e ter o julgamento dele, me chamou a atenção. Gosto dessas coisas de tribunal, várias verdades, e desfechos surpreendentes. Não, esse não era surpreendente. Comecei a pesquisar na internet de que se tratava para saber se valeria a pena assistir. Só ali, perdi aproximadamente uma hora, mesmo assim resolvi assistir. A cada cinco ou dez minutos me perguntava porque estava vendo isso e me cobrava que deveria desligar e ver algo positivo, porém continuava ali. Vendo episódio atrás de episódio e sempre me perguntando porque não podia simplesmente parar e fazer ou ver outra coisa. 

Enquanto assistia, minha mente me questionava e fazia uma relação de tudo que eu poderia estar fazendo e não estava. E eu observando esse movimento. Parte de mim não conseguia porque a ideia de parar algo na metade, abandonar a história ao meio, não era aceitável. Como se as coisas realmente tivessem começo, meio e fim. Mesmo que eu perderia mais três horas de vida nutrindo minha mente com cenas fortes e que pouco agregariam ao meu propósito de vida, eu precisava terminar. Percebi claramente que ainda não aprendi a soltar. Não sei relaxar, não sei fluir. É uma rigidez interna que não permite parar algo que já não me faz sentido. Tenho observado isso claramente nos últimos tempo, principalmente profissionalmente. É uma necessidade de regras, de começo, meio e fim, que eu não aguento, mas me submeto. Eu as crio e sigo e reclamo e sigo e reforço e sigo. 

Então essa foi a primeira observação resultante das quase 5 horas de Netflix: não aprendi a soltar.

A segunda foi: a mente é faminta, ela cria a partir do que você a alimenta.

Todos sabemos que a mente não para. Dia e noite gerando pensamentos. Etiquetando tudo o que vê. Descrevendo o que estamos fazendo. Revisitando o passado. Projetando o futuro. Reclamando do presente. Buscando palavras para expressar o contentamento. Seja para o que consideramos bom ou ruim, ela não para. Ela é criativa, mas ela só pode criar a partir de um referencial. Então enquanto assistia a essa história me questionava que tipo de referencial estava ensopando minha mente. Foi interessante ver o lado humano dos envolvidos, ouvir como reagiram e ainda reagem à tudo que aconteceu. Mesmo assim, estava dando espaço para que minha mente possa acessar e distorcer tudo o que viu lá. Horas depois estava deitada lendo um livro e alguma imagem ou frase do documentário surgia na minha mente. Eu respirava e deixava ir, mas sei que está lá.

O documentário em si foi desnecessário. As contemplações que estão surgindo são essenciais. 

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